segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sarau

De acordo com a Wikipédia, Sarau vem do latim seranus e do galego serao. Significa um evento cultural ou musical, que é realizado em casas de artistas que se encontram para expressarem e se manifestarem artisticamente.
Na semana passada realizei com meus alunos do terceiro ano do ensino fundamental o primeiro sarau do ano. Dispus as cadeiras de forma circular, para que todos pudessem visualizar os colegas.
No início, poucos alunos queiseram participar, pois estavam com vergonha. Após as primeiras leituras, todos da turma queiseram ler.
Um problema a ser enfrentado é que as crianças ainda não aprenderam a ouvir os colegas. Todos querem ler, mas poucos se dispõe a ouvir com atenção os colegas que estão lendo.
Acredito que isso se dê  porque muitos ainda possuem dificuldades ao realizar as leituras, dificultando o entendimento dos que ouvem.
Os poemas lidos foram de autores já consagrados, como Henriqueta Lisboa, Vinicius de Moraes, José Paulo Paes, entre outros.
Hoje acontecerá lá no CEU o primeiro Sarau da EJA. A diferença é que os poemas lidos foram escritos pelos próprios alunos.
Prometo que na próxima postagem colocarei muitas fotos dos dois Saraus que realizamos.
Esse poema não foi lido pelas crianças,mas resolvi deixá-lo aqui para que vocês se inebriem com o vinho da poesia.
 
Henriqueta Lisboa
 
Do supérfluo


Também as cousas participam
de nossa vida. Um livro. Uma rosa.
Um trecho musical que nos devolve
a horas inaugurais. O crepúsculo
acaso visto num país
que não sendo da terra
evoca apenas a lembrança
de outra lembrança mais longínqua.
O esboço tão-somente de um gesto
de ferina intenção. A graça
de um retalho de lua
a pervagar num reposteiro
A mesa sobre a qual me debruço
cada dia mais temerosa
de meus próprios dizeres.
Tais cousas de íntimo domínio
talvez sejam supérfluas.
No entanto
que tenho a ver contigo
se não leste o livro que li
não viste a rosa que plantei
nem contemplaste o pôr-do-sol
à hora em que o amor se foi?
Que tens a ver comigo
se dentro em ti não prevalecem
as cousas — todavia supérfluas —
do meu intransferível patrimônio?


Publicado: Pousada do Ser (1982)
 
 
Um abraço
 
G. RECCO

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aprendendo a gostar de literatura:Histórias de Tia Nastácia, Monteiro Lobato

Diversos autores, como por exemplo Soares (2008) acreditam que a escola  cria nos alunos aversão à  literatura. Ao invés de formarmos leitores, conseguimos o efeito contrário. Por que será que isso acontece?
Sempre amei os livros. Em casa, nos tempos de criança,  minha mãe comprava livros mensalmente , engordando  o enorme acervo. Mas hoje sei que essa não é a realidade da maior parte dos brasileiros. Na escola, quando eu estudava no primeiro grau de uma escola estadual, a biblioteca mais se assemelhava a um porão feio e mofado. Não tinha livros interessantes e para piorar a situação, estava sempre fechada.
Quando algum professor se metia a trabalhar literatura, a coisa ficava pior ainda. Tínhamos que ler para responder questionários, fazer provas e nunca para simplesmente curtir...
Ao confrontar as experiências vividas com a bagagem do curso de Letras e Pedagogia, tento fazer diferente... As crianças tem que gostar de ler e de ouvir estórias  pelo simples prazer. Para que isso ocorra todos os dias inicio minhas aulas com uma leitura de fruição. As crianças já conhecem a rotina e quando pergunto o que faremos em primeiro lugar, já respondem "A leitura, pro!"
Muita gente ainda pensa que ler para turmas do ensino fundamental é perda de tempo. Afinal de contas, o tempo é tão curto, temos tantos conteúdos, temos que prepará-los para as provas institucionais, etc., etc....
Acredito que a leitura de fruição não é um tempo perdido, muito pelo contrário. Ao ler e  apresentar às crianças histórias variadas , aumentamos seu repertório cultural.
Nos mêses de agosto e setembro, estou lendo para minha turma de terceiro ano o livro Histórias de Tia Nastácia.
 
 
 
 
O livro, que  já teve diversas edições, a traz os contos populares do Brasil.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encontramos até a versão abrasileirada de João e Maria e o autor explica de uma maneira fácil e simples como os contos percorreram épocas através da tradição da contação oral.
Trago hoje um trechinho do livro pra vocês. Esta estória, chamada A Moura torta, as crianças apreciaram bastante.
 
Era uma vez um pai de três filhos, que não tendo dinheiro com que dotá-los deu a cada um uma melancia, quando eles falaram em sair a correr mundo. Mas recomendou que não as abrissem em lugar onde não houvesse água,

O filho mais velho, ansioso por saber de sua sina, abriu a melancia à beira do caminho logo adiante. De dentro pulou uma moça muito linda, a gritar: “Dai-me água ou leite!” Mas como ali não houvesse água nem leite, ela inclinou a cabecinha e morreu.
O filho do meio, que havia tomado por outra estrada, também resolveu conhecer sua sina e abriu a melancia num ponto onde não havia nem sombra de água perto. Surgiu de dentro uma jovem ainda mais bela, que disse: “Dai-me água ou leite!” Mas como não houvesse por ali nem uma nem outra coisa, ela também pendeu a cabecinha e morreu.
O filho mais moço, porém, deu muito tento à recomendação paterna, de modo que só abriu a sua melancia ao pé duma fonte. Também de dentro pulou uma moça belíssima, que pediu água ou leite. O moço deu-lhe água da fonte, que ela bebeu a fartar. Mas como estivesse nua, o moço pediu-lhe que subisse a uma árvore e lá ficasse escondidinha entre as folhas enquanto ele ia buscar-lhe um vestido. A moça subiu à árvore e escondeu-se entre as folhas.
Logo depois apareceu uma moura-torta, com um pote à cabeça. Vinha enchê-lo naquela fonte. Olhou para a água e viu o reflexo da moça escondida na árvore.
— Ora que desaforo! Pois se eu sou uma beleza assim, como é que ando a carregar água para os outros? — E jogou o pote, quebrando-o em vinte pedaços.
Mas ao voltar para casa tomou uma grande descompostura da patroa, que a mandou à fonte com outro pote. A moura-torta foi e novamente viu o reflexo da moça na água. E quebrou o segundo pote.
A moça na árvore não conteve uma gargalhada. A moura-torta olhou para cima e percebeu tudo. Jurou vingar-se.
— Linda, linda moça — disse ela fazendo voz macia — que bela cabeleira tu tens, minha flor. Que vontade de correr os dedos por esses lindos fios de ouro! Deixa-me que te penteie.
A moça, sem desconfiar de nada, deixou. A moura-torta subiu à árvore e começou a pentear aquela belíssima cabeleira loura. Súbito, zás! — fincou-lhe um alfinete na cabeça. Imediatamente a moça virou uma pombinha e voou. A moura-torta, muito contente, ficou no lugar dela.
Nisto apareceu o moço com o vestido, mas ao ver a sua beleza transformada naquele monstro arregalou os olhos.
— Que queres? — disse a moura. — Demoraste tanto que o sol me queimou, deixando-me preta assim.
O moço deu um suspiro; mas como se tratasse de sua sina, não podia evitar coisa nenhuma. Levou a moura para o palácio e com ela se casou, tudo na maior tristeza.
Desde o primeiro dia começou a aparecer por ali uma pombinha, que se sentava nas árvores do jardim e dizia ao jardineiro:
“Jardineiro, jardineiro, como vai o rei meu senhor e mais a sua moura-torta?”
Dizia isso e voava. Mas tanto repetiu aquela frase que o jardineiro falou ao rei.
O rei, já meio desconfiado, mandou armar uma armadilha de prata para pegar a pombinha. A pombinha não caiu no laço. Mandou armar uma armadilha de ouro — e nada. Uma de diamante — e nada. Por fim o jardineiro fez uma de visgo e nessa a pombinha ficou presa.
O jardineiro levou-a ao rei, o qual a pôs numa gaiola muito linda.
Imediatamente a moura-torta manifestou desejo de comer a pombinha assada, e tanto insistiu que o rei foi obrigado a dar licença para aquele crime. Mas no dia em que a pombinha ia morrer, o rei tomou-a nas mãos e afagou-a. Percebeu logo em sua cabeça um carocinho. Olhou. Era uma cabeça de alfinete. Puxou-o — e logo que o alfinete saiu a pombinha se transformou na linda moça da melancia.
— Oh! és tu, minha amada! — exclamou ele, na maior alegria.
A moça contou-lhe toda a traição da moura-torta. O rei, furioso mandou amarrá-la na cauda de um burro bravo e soltá-la pelos campos.
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— Essa história — disse Emília — começa bastante bem e vai bem até certo ponto. Depois derrapa como automóvel na lama. O tal moço era um coitado que só possuía uma melancia. De repente está num palácio, e sem mais aquela vira rei…
— Isso mostra — explicou dona Benta — como na tradição do povo as histórias se vão adulterando. Vê-se que está incompleta. Com a passagem dum contador para outro, perdeu um pedaço.
— A idéia — disse Narizinho — me parece linda e original — a idéia do alfinete fincado na cabeça da moça, embora seja um absurdo. Em cabeça de gente não entra nem prego, quanto mais alfinete. Mas passa, porque nas histórias não há naturalismo; tudo é possível. O que não engulo é o moço deixar-se enganar pela moura-torta. Isso é demais.
— Um bobo desse tamanho — ajuntou Pedrinho — eu nunca vi igual. Pois então toda a feiúra da moura-torta ele acreditou que fosse dum bocadinho de sol que a moça havia tomado? Grandíssimo sandeu! Além do mais, ele a havia deixado escondida dentro da folhagem — e que sol é esse que penetra dentro da folhagem das árvores?
— Esta história está cheia de “popularidades” — disse Emília — mas pelo menos tem o mérito de alguma coisa nova: o alfinete enterrado na cabeça da moça, a sua transformação em pombinha e, melhor que tudo, o caso da moura confundir o reflexo da moça com a sua própria imagem. Está tudo muito tosco e bruto, mas passa. Dou grau seis.
— Só porque apareceu uma pombinha! — exclamou dona Benta. — As histórias com pombinhas dentro sempre encantaram a Emília.
— E tenho razão — disse a ex-boneca. — Não há nada mais lindo que uma pombinha bem branca, com aqueles olhos tão redondos. A minha ave predileta sempre foi a pombinha. E a sua, tia Nastácia?
A negra teve vergonha de dizer. A ave predileta de tia Nastácia sempre fora uma galinha bem gorda, das boas para fazer de molho pardo.

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source
 
 
 
 

 
 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Começando...

Educar não é um processo fácil, simples... Os processos de aprendizagem, tampouco,  não se dão de maneira mecânica como durante muito tempo se pensou.
Ensinar também não é um dom para poucos e muito menos uma vocação. Requer tempo árduo de estudos, planejamento e estratégias. Educar é uma arte complicada que requer tempo e paciência.
Paciência para lidar com as diferenças, com as angústias humanas, com os problemas inerentes à conviência que nunca é pacífica e simples.
Neste blog, pretendo dividir com vocês minhas angústias, vivências, medos, atividades , problemas e divagações sobre a arte de ensinar.

Gisele Recco